O homem, o cargo e o caráter
Semana passada um fato lamentável ocorreu numa repartição pública do estado, em Ilhéus. O seu comandante, o primeiro que, por estar ocupando um cargo público, deveria exercer com excelência o princípio da impessoalidade, optou pela vingança covarde e mesquinha. Único a poder digitar uma senha capaz de atender a um cidadão que cumpriu com todos os dispositivos legais para ter um serviço atendido, preferiu inventar a "quebra" de um equipamento - depois de fazê-lo passar por horas de espera - para se vingar. O motivo? Pasmem: por este fazer oposição a quem lhe indicou para o cargo.
Se por um lado a atitude covarde é de uma gravidade extrema, por outro, é justificável. O patrão que hoje ele beija e lava (nesta ordem, claro) as mãos, ontem, já apedrejou. Foi crítico e oposicionista talvez até maior que a sua mais recente vítima. O lamentável disso tudo é perceber que uma retaliação tão absurda como esta, parte de um representante de um governo que foi eleito defendendo o direito à liberdade de escolha e de opinião.
Óbvio que não se pode generalizar. E nem vamos. Culpar simplesmente um governo é não se permitir analisar o cerne da questão. Mais que um deslize técnico, neste caso, em especial, há um desequilíbrio moral do protagonista. Mas o governo - qualquer que seja um governo democrático - precisa ter um melhor processo de avaliação de quem ocupa os cargos oferecidos por ele. Não basta a indicação. É preciso avaliar o caráter de quem estará lhe representando.
O nobre leitor pode estar questionando: por que não aproveitar a oportunidade para "dar nome aos bois"? Por que há outras formas de se combater a intolerância, o desequilíbrio e a insensatez. Aqui cabe apenas o desabafo. Ao contrário do método usado por ele, há formas muito mais inteligentes de lutar. Um lobo em pele de cordeiro não se descontrói num toque de mágica. É preciso desmascará-lo aos poucos, sem varinha de condão, com responsabilidade, sem injustiça mas, fundamentalmente, em nome da dignidade humana, do respeito ao próximo e do exemplo que pode ser dado à sociedade em que vivemos.
É como diz um velho adágio popular: o talento educa-se na calma, o caráter no tumulto da vida.
É preciso ser maior que a covardia alheia. E dar tempo ao tempo! Estas pessoas, mesmo que, neste momento, preservemos a identidade delas, não se sustentam por muito tempo. Elas se autodestróem.